Friday, January 21, 2011

Acabei de sair do banho.

Antes de resolver tomar banho, eu tava deitado na cama lendo o segundo livro do Musashi.
Deitado de bruços na cama, uma mão no livro e outra no queixo, comecei a sentir meu rosto dormente.

Eu devia tá uns 10 minutos naquela posição.
Mudei depressa, sem tirar os olhos do livro e então lembrei de uma sensação que tive certa vez que estava indo pra São Paulo: Dentro do ônibus, bocejei com o rosto apoiado na mão.
Quando minha boca abriu, meus dedos ficaram cravados na cavidade onde há pouco continha bochechas!
Eu não lembro o motivo de ter assustado, mas comecei a passar a mão com força no meu rosto, sentindo o crânio.
Minha boca estando aberta eu pude sentir com detalhes o maxilar. E fechando os olhos, conforme ia passando a mão, eu visualizava a caveira.

E eu me senti meio injustiçado, como se eu só devesse me dar conta de que sou formado disso quando estivesse perto de morrer ou sei lá.
Acho que qualquer um associa esqueletos e caveiras à morte.
E foi isso que eu senti, como se a morte estivesse dentro de mim, esperando lá, quietinha pra sair.
Não dava pra escapar.
Ela vive em mim, desde pequeno.
Nasce comigo, desenvolve comigo. Se fortalece.
Pareceu uma visão assustadora no dia, e hoje senti a mesma sensação.

Levantei e fui tomar banho. Eu já tinha perdido a concentração mesmo Kojiro se esforçando pra mantê-la enquanto mandava uma carta de duelo a Musashi através de Iori.

Eu costumo tomar banho de luzes apagadas. Ainda pensando na "sensação da caveira", pela janelinha do banheiro, logo ao lado do chuveiro, eu vi a lua. Gigantesca e amarela.
Pensei no sol que nasce e se põe todo dia!
Nunca faltou!
Pode ser que um dia surja nublado, ou que a lua não apareça tanto naquela noite.
Mas a função deles permanece, sempre. Todo dia.
É uma sensação de segurança, que inadvertidamente tomamos e deixamos de notar.

Então fiquei com vontade de fazer xixi, mas apesar das sugestões ecológicas do PC Siqueira, não me aliviei ali no ralo.

E mais pensamentos invadiram. Dessa vez pensando o quanto somos mimados pela criação e desenvolvimento humano.
É tudo divertido. No mínimo bom. Eliminar substãncias tóxicas é divertido.
Não é estranho? Nossa manutenção diária do corpo depende muito pouco da nossa consciência sobre ele mesmo.
Somos guiados pelo prazer e antes de descobrirmos isso por nós mesmos, seja lá quem foi que nos criou, nos fez já sabendo disso.
Então fazer xixi é bom, fazer cocô, reproduzir, comer, respirar profundamente e por aí vai.

Nosso corpo se mantém, automaticamente cuidando das células e renovando todo o nosso corpo a cada 7 anos. E o que o corpo não mantém sozinho, ele não conta com nossa preocupação sobre o mesmo! Conta com nossa busca pelo prazer.
Quer dizer, será que se eu tivesse que tomar conta do meu corpo simplesmente pelo bem-estar dele, eu o faria?

Eliminar toxinas deveria ser motivo suficiente pra fazer xixi. E prover energia pro corpo, motivo suficiente pra comer. É aquela coisa, meiso pra um fim.
Mas se não fosse bom, eu sinceramente me vejo me contorcendo de dor porque fazer xixi é simplesmente incômodo e eu deixei de fazer pra poder assistir tv.

Jerry Seinfeld disse "Se nosso corpo fosse um carro, a gente não comprava!"

E lembro de um episódio de House em que a Cameron descreve pro Chase o que acontece com nosso corpo durante o sexo. É realmente extremamente perigoso! E ela conclui o argumento dizendo que se não fosse extremamente prazeroso passar por tudo isso, a raça humana já teria sido extinta.

Nós somos condicionados, no fim das contas, a ficar parados! Aproveitando a maravilha pronta.

Então, fico entre três caminhos, enquanto procuro um motivo pra tudo ser assim:

1- De fato, essas coisas deveriam sim ser automáticas, porque não devemos prestar atenção nelas. Deve ter alguma outra coisa que deveríamos estar buscando? Quase como se Deus dissesse:
"Não perca tempo cuidando da manutenção do seu corpo, desde que você não o envenene muito, ele irá se regenerar sozinho. Tenho coisas mais importantes pra você pensar e se preocupar. Essa sensação de segurança que dou, é pra você buscar o que importa de verdade. Existe algo que vocês precisam desenvolver pra sobreviver à morte, então te livro da responsabilidade de cuidar desse corpo transitório."


2- "Condiciono vocês a ficarem parados, condiciono vocês a uma vida em que até o mais necessário pra sua sobrevivência é prazeroso simplesmente porque isso é só o que existe. Aceite. Seja feliz. Porque vai acabar."

ou

3- "Deixa de ser um estúpido egocêntrico-diz Deus pro Bruno- O universo é gigantesco e coisas acontecem no micro e macrocosmo que você nem se dá conta. Não importa o significado dessas coisas, porque elas não são só pra você. Nem se quisesse, entenderia."

É um assunto estranho, confuso, doido que passa pela minha cabeça.
Escrever sobre ele me deixa melhor.
Não sei se ler provoca a mesma coisa.

A questão é que, acho que mesmo se o próprio Deus descesse e me desse a resposta, eu não seguiria. Sou humano, inconstante. Vou buscar o prazer, a diversão. Num dia posso acreditar que tudo existe com um propósito; no outro acredito que tudo vai se acabar e preciso mais é que aproveitar; em outro nem lembro que vou morrer e fico sentado fazendo meus desenhos ouvindo Beatles.

1 comment:

Gilberto Queiroz said...

Fala, Bruno! Questões pertinentes! Essa oscilação de pensamento pode não ser muito cômoda, mas às vezes é muito comum. E ler seu texto dá sim, muitos insights.
Abraço,