Thursday, June 26, 2008


Duas páginas (mas tá na ordem contrária).

Essa semana - não lembro bem o dia - aquela sensação que me fez postar da outra vez sobre as dificuldades de se disciplinar durante qualquer situação, voltou.

Era 2 da manhã e desde a meia-noite eu não conseguia me concentrar. A página tava toda esboçada, com marcação de sombra, perspectiva acertada e tudo mais. Eu tinha que, basicamente, "contornar" o desenho e detalhar um pouco mais. Quando tomei consciência disso, disse pra mim mesmo: "Você não precisa tá afim de fazer isso. Toda a parte que precisava da sua empolgação já passou. Só faz."
É claro que não adiantou. Fiz o primeiro quadro e achei uma merda. Aí vem aquela palhaçada de frustração.

Levantei da prancheta e vim pro computador olhar desenhos, ler entrevistas, qualquer coisa que direcionasse minha mente pro modo "desenhista". Geralmente dá certo. Dessa vez não deu.

Quando tava desistindo e indo deitar, resolvi tentar uma última coisa. Voltei pro computador, abri meu blog e reli aquele post que escrevi. As mesmas sensações estavam descritas ali. Então fui ler os comentários. E as palavras das pessoas que escreveram (principalmente das pessoas que eu conheço e admiro) estavam cheias de paixão. Da paixão que eles mesmos aconselhavam lá.

Depois que li os comentários, entrei no meu e-mail e li um enviado pelo Roger respondendo umas questões que eu tinha sobre prazos.

Assim que fechei tudo, o mundo ficou quieto (e por mundo entenda minha cabeça).
Moro numa avenida movimentada e eu escutava os poucos carros que passeavam pela madrugada (já era quase 4 da manhã).

Desliguei o computador e fui pro quarto. Silêncio.
Eu tava andando até mais devagar. Sabe aqueles momentos em que você parece ter uma epifania (odeio essa palavra)? Aquela coisa em que você lê uma coisa várias vezes, mas num determinado momento, numa determinada situação, aquilo relido te traz informações valiosas. Até sentimentos aparentemente impossíveis de se obter de letras digitadas.

Coloquei Beatles (Revolver) e sentei na cadeira. Eu não via mais o geral da página, todo o trabalho que tinha de ser feito e nem pra quando. Eu vi o primeiro quadrinho.
Passei o limpa-tipo e tava na hora de deixar aquilo legal.
Comecei a finalizar uma cabeça olhando pra cima. Devagar, com calma, com vontade e tesão de deixar aquilo legal. Aquele tesão de fazer legal pra você.

A partir daqui, descrever exatamente o que você sente quando "entra" no modo tesão é complicado =)
O tempo meio que some. A sensação de tempo, pelo menos. Aquele momento em que você tá com o lápis no papel é único e aparentemente eterno, sem ser entediante.

Acabei a finalização às 9 da manhã. O sono tinha sumido, a sensação de dever cumprido somada à "felicidade" (não é bem a palavra) de ter feito algo com vontade, me deixavam em paz.

Tomei um banho e o sono voltou.

Deitei e dormi feliz por ter superado uma sensação que, quando a gente entra, parece insuperável. Mas depois que passa, parece simplesmente frescura de ter se deixado levar por ela.

É um texto besta de agradecimento. Mas ainda assim um agradecimento muito sincero.