Thursday, August 14, 2008


A gente é um tnatão de gente, né?
Num determinado dia, se estamos confiantes, vemos tudo com uma certa facilidade, nada que se compare às nossas habilidades de vivência e então logo nos cercamos de fatos e opiniões saídos do forno que usaremos como guia pra lidarmos com quaisquer assuntos.

Noutro dia estamos acabados. Sem motivo aparente. E aí as resoluções de ontem não são tão brilhantes. Não são mais fatos concretos. Não são opiniões realmente verdadeiras. Apenas decisões baseadas num momentinho de cofniança. Sendo assim, nesse dia que nos sentimos derrubados, criamos novas resoluções: Não vou mais confiar tanto em mim. É preciso analisar tudo com mais cuidado. E aí, antes que se queira, pronto: Novas resoluções foram criadas.

É um círculo até que uma nova percepção surja: É preciso lidar com cada coisa separadamente, com o mínimo de interferência de experiências passadas. Ou não? Aí já é outra resolução?

Besteirada.

Essa é uma das páginas da HQ que tô fazendo pra Arcana. É a página 11.
Eu acho legal o quanto um material pode ter diferença. Um lápis 2B e um 4B por exemplo. É vergonhoso admitir isso, mas quando entrei na Quanta, eu desenhava com esses lápis e eu não via diferença. Era ridículo porque eu ouvia os caras: Pô, eu prefiro tal lápis, porque nesse papel, dá tal resultado.
E pra não ficar de fora eu também: Ahh, tal lápis é muito melhor no canson.
Todo mundo concoda com você se você fala com empolgação, hahaha

Eu estudei com uma turma fudida!! Com um povo que desenhava pra cacete!! Klayton Luz, Léo Augusto, Wilson Oliveira. Era intimidante tá na sala com esses caras. E eu nunca escondi minha empolgação. O Klayton desenha "como o demônio" (citações de Octavio Cariello referente a um artista de qualidade extremamente superior). Ele desenhava rápido, um desenho solto. A aula inteira. Eu pulava no pescoço do cara, querendo sugar tudo que ele sabia. Que lápis ele usava, o papel. O que ele pensava quando desenhava.

Tempinho baum =)

Abraço

Wednesday, July 09, 2008



Recebi um e-mail muito legal do Vitor Ishimura sobre o post anterior (não sei porque ele não postou aqui, mas tudo bem).

Eu não sei se consigo explicar muito bem porque é bom saber que outras pessoas sofrem do que você sofre e se empolgam com a mesma coisa que te empolga. O que eu sinto é que se outras pessoas passam por coisas semelhantes (ou sentem coisas semelhantes), significa que o que você sente de ruim, não é lá grande coisa. É humano e natural.

Acho legal uma coisa que o Roger comentou em outro post, ele diz o seguinte: “Só tenho uma coisa a dizer:
-Senta e faz! ahahah
Com paixão, sem preguiça, com planejamento.
Nos momentos de deprê, faz o seguinte: Senta e faz!
Tirando as exceções de depressão justificada, deprê não mata, não anula, não te impede de comer, ir pra faculdade, almoçar, enfim, tocar a vida.”.

Ler esse tipo de coisa, é como você estar no pé de uma montanha, desanimado se consegue escala-la ou não. E quando você olha pra cima, tem um cara feliz lá no topo sacudindo os braços e gritando: “Vem. Dá pra subir, sim.”

E confesso, com um carinho muito grande, que receber comentários, críticas e incentivos de gente que admiro é uma tremenda mudança pro meu espírito, humor e vontade.

Rafael, putz, que legal receber um comentário assim! Cara, você mora em Bauru? Não é muito longe da capital, é? Você podia fazer algum curso de final de semana. O que eu aprendi na Quanta (e sobre a Quanta) é que o curso que você faz é muito importante e tal. Mas todo o ambiente da escola, a conversa com as pessoas é algo que te impulsiona. Então faça um curso lá, nem que seja só nos finais de semana pra você ter contato com o pessoal, mostrar seus desenhos e ver como eles lidam com as situações que a gente não faz idéia nem se são possíveis de “serem lidadas”, entende? Eu vi seu desenho! Gosto da questão de mostrar uma situação completa em só uma imagem, sem diálogo e sem narrativa seqüencial. Só de ler a plaquinha no bicho você já entende tudo!

Sobre o e-mail do Roger, eu realmente não entendi por que ele pensou que eu ia achar ruim. Dizia basicamente sobre o que a gente meio que tem medo, que é assumir que quem manda é a gente. A gente não devia ter que ter alguém cobrando pra funcionar. A gente põe na cabeça, vai e faz. Se disciplina. Desenhar o tempo todo. Se você não ta trabalhando, vai e desenha outra coisa.

E comigo, sinceramente, tem funcionado. E lendo o e-mail do Roger, eu vejo que não é só com desenho, não. É difícil, mas tudo que você for fazer, tenta fazer com vontade. Pega aquilo que você tem que fazer e toma pra você. Faz disso uma escolha sua, não uma obrigação.

Esse post tá enorme, vou encerrar comentando sobre essa página. O Roger (ele me dá R$ 0,10 cada vez que uso o nome dele aqui) me aconselhou a buscar uma coisa mais pessoal, me basear em fotos e não tanto em outros desenhistas (leia-se Ivan Reis, huahuahua).

Então agora, quando desenho, busco fotos pra que eu interprete a realidade.

A mulher do último quadro ficou com o queixo muito largo e os olhos muito acima da onde deveriam estar. E aí isso leva a vários outros erros no desenho.

O que eu gostei, foi de ter feito completamente sozinho. Sem pensar no trabalho de ninguém.

Vou manter isso.

O primeiro quadro... essa sacada do prédio me perturba muito. Eu dei a bobeira de esboçar e não buscar referências. Quando eu tava acabando eu pensei: A sacada devia ser maior e devia estar contida num espaço maior do prédio. O prédio ficou fino, a sacada pequena, etc, etc. Deu raiva quando vi o rumo que isso tava tomando. Mas foi um acidente que não dava tempo de consertar. Fazer o que.

Ah, um comentário extra pro Walis!! O Vitor disse que você tem fotos de desenhistas, entrevistas e uma porrada de coisas assim. Me manda, cara!! Adoro isso! Meu e-mail é bbrunoliveira@gmail.com

E acabou.

Thursday, June 26, 2008


Duas páginas (mas tá na ordem contrária).

Essa semana - não lembro bem o dia - aquela sensação que me fez postar da outra vez sobre as dificuldades de se disciplinar durante qualquer situação, voltou.

Era 2 da manhã e desde a meia-noite eu não conseguia me concentrar. A página tava toda esboçada, com marcação de sombra, perspectiva acertada e tudo mais. Eu tinha que, basicamente, "contornar" o desenho e detalhar um pouco mais. Quando tomei consciência disso, disse pra mim mesmo: "Você não precisa tá afim de fazer isso. Toda a parte que precisava da sua empolgação já passou. Só faz."
É claro que não adiantou. Fiz o primeiro quadro e achei uma merda. Aí vem aquela palhaçada de frustração.

Levantei da prancheta e vim pro computador olhar desenhos, ler entrevistas, qualquer coisa que direcionasse minha mente pro modo "desenhista". Geralmente dá certo. Dessa vez não deu.

Quando tava desistindo e indo deitar, resolvi tentar uma última coisa. Voltei pro computador, abri meu blog e reli aquele post que escrevi. As mesmas sensações estavam descritas ali. Então fui ler os comentários. E as palavras das pessoas que escreveram (principalmente das pessoas que eu conheço e admiro) estavam cheias de paixão. Da paixão que eles mesmos aconselhavam lá.

Depois que li os comentários, entrei no meu e-mail e li um enviado pelo Roger respondendo umas questões que eu tinha sobre prazos.

Assim que fechei tudo, o mundo ficou quieto (e por mundo entenda minha cabeça).
Moro numa avenida movimentada e eu escutava os poucos carros que passeavam pela madrugada (já era quase 4 da manhã).

Desliguei o computador e fui pro quarto. Silêncio.
Eu tava andando até mais devagar. Sabe aqueles momentos em que você parece ter uma epifania (odeio essa palavra)? Aquela coisa em que você lê uma coisa várias vezes, mas num determinado momento, numa determinada situação, aquilo relido te traz informações valiosas. Até sentimentos aparentemente impossíveis de se obter de letras digitadas.

Coloquei Beatles (Revolver) e sentei na cadeira. Eu não via mais o geral da página, todo o trabalho que tinha de ser feito e nem pra quando. Eu vi o primeiro quadrinho.
Passei o limpa-tipo e tava na hora de deixar aquilo legal.
Comecei a finalizar uma cabeça olhando pra cima. Devagar, com calma, com vontade e tesão de deixar aquilo legal. Aquele tesão de fazer legal pra você.

A partir daqui, descrever exatamente o que você sente quando "entra" no modo tesão é complicado =)
O tempo meio que some. A sensação de tempo, pelo menos. Aquele momento em que você tá com o lápis no papel é único e aparentemente eterno, sem ser entediante.

Acabei a finalização às 9 da manhã. O sono tinha sumido, a sensação de dever cumprido somada à "felicidade" (não é bem a palavra) de ter feito algo com vontade, me deixavam em paz.

Tomei um banho e o sono voltou.

Deitei e dormi feliz por ter superado uma sensação que, quando a gente entra, parece insuperável. Mas depois que passa, parece simplesmente frescura de ter se deixado levar por ela.

É um texto besta de agradecimento. Mas ainda assim um agradecimento muito sincero.

Thursday, May 01, 2008







Páginas de teste.
Sempre que eu faço um teste com super-heróis me vem a empolgação que eu imagino que deva ser trabalhar com esses personagens.
É incrível e um sentimento muito estranho, acima de outras coisas e sentimentos.
É aquela emoção da infância tão única e indescritível.
Adorei fazer esse teste e pena que não deu pra pegar trabalho nenhum.

Vou começar outro teste com o Wolverine.

Tuesday, March 11, 2008

Na segunda ou terceira aula com o Ivan, lembro de estar sentado esperando ele terminar de xerocar algumas páginas da Action Comics #815.
Eu tinha acabado de comprar na banca da rodoviária uma Wizard que tinha entrevista com o Bené (Joe Bennett).
No momento em que o Ivan entrou na sala com os xerox na mão, eu estava lendo uma das últimas perguntas da entrevista. A pergunta era referente ao ritmo de produção dele, quantas páginas fazia por dia, etc. Me lembro detalhadamente do Ivan colocando as páginas em cima da mesa enquanto eu lia a resposta do Bené que era mais ou menos assim: “Produzo cerca de 2 páginas por dia, salvo os dias de depressão profunda aos quais todos estamos sujeitos.”
A resposta era basicamente essa e o motivo de eu lembrar com detalhes do que o Ivan fazia enquanto eu lia essa resposta é porque lembro de me tocar, naquele segundo, sobre a parte difícil de se trabalhar com algo que parece exigir de você seu melhor estado de espírito pra fazer algo bom.
E é diferente quando você vê uma pessoa real, que sente como você sente, na sua frente com trabalho em mãos. Um bom trabalho em mãos.
É diferente você ler nas revistas que é preciso fazer uma página por dia e depois olhar pra pessoa na sua frente que tem que produzir com uma determinada qualidade com regularidade.
Agora, veja bem, isso é relativo e tenho certeza que no fundo, acaba sendo uma questão de: Senta e faz.
Mas é assim mesmo? E eu pergunto de verdade pra todo mundo aí (e é qualquer um) que tenha mais experiência que eu. É realmente assim sempre?
Bateu uma tristeza, uma solidão, coração partido ou simplesmente algo bobo que parece ter mais importância do que realmente tem... sei lá o quê, mas tem que trabalhar... realmente é senta e faz?
“Ah, tem que ser, porque com os prazos, etc, etc.”
Sim, eu tive essa aula.
Mas sempre funciona?
O “ senta e faz”, “cumpre seu prazo” é suficiente pra fazer um bom trabalho?
Quando seu humor (seu estado, sua mente) deixa de perturbar – ou perturba menos – e você, profssional, consegue sentar e trabalhar bem? Fazer um bom trabalho simplesmente. Como se faz isso?
É tempo? Experiência? Maturidade?

Eu passo por isso mais vezes do que gostaria (e talvez seja algo pessoal e não generalizado), mas eu queria realmente saber colocar essas coisas de lado e fazer um bom trabalho. Não simplesmente fazer o trabalho. Mas fazê-lo bem.

Tuesday, March 04, 2008




Eu tava relendo uns pedaços da entrevista e pra minha sorte as resposta do Cariello tiram atenção das minhas perguntas, haha.




Semana passada um editor me ofereceu um trabalho. Eu aceitei mas o cara acabou dizendo que estava entre eu e um outro cara, que queria que eu fizesse um teste.


Essas coisas sempre me fazem ficar nervoso na hora de desenhar e acabo tentando estrapolar, tento fazer algo que eu acredito que o outro cara nunca vai pensar.




O teste era criar um personagem (que poderia ser usado tanto como vilão quanto como herói) pra uma HQ com um determinado tema futurista e criar outros personagens baseados num conceito também futurista. Não tinha nenhum design nem nada. Era pra eu e o outro cara criarmos do nada. Eu recebi o e-mail por volta de 3 da manhã e tinha que ser entregue até as 8 da manhã.




Antes de sentar na prancheta fiquei querendo pensar, deitar na cama e refletir e toda essa viadagem. Mas eu desenho devagar pra caramba e acabei seguindo um conselho que o Cariello sempre me dava em toda aula. Sem frescura. Basicamente, sem frescura. Não dava pra querer fazer obra de arte (porque como ele mesmo diz, arte é uma cagada, sai, não é planejada). O máximo que eu podia fazer era o trabalho que me foi pedido dentro do prazo.




Então, na idéia de "ir além", criei o bichão aí com armadura e me meti a pintar porque eu tinha desenhado até rápido. Peguei umas tintas aquarelas da Pentel (é a única coisa que eu sei usar mais ou menos) e fiz. Quando acabei, eu odiei, mas não dava tempo de (e nem tinha como) arrumar. Eu acabei achando que o desenho só no lápis tava mais legal. Peguei outra folha e corri pra criar outros personagens. Como não tinha mais muito tempo (faltava uma hora e meia pro prazo vencer) eu desenhei uma "cena" pra apresentar os personagens principais e seus uniformes. Acabei em cima da hora e enquanto corria pro computador pra escanear, eu olhava as duas páginas epensando: "Tá uma merda, tá uma merda, arruma isso!" Mais uma vez, a frase do fessôr veio na cabeça e eu consegui relaxar.

Eu mandei e acabei pegando o trabalho (ontem à noite). Mais por ter cumprido o prazo do que pela qualidade (mas o design dos personagens vai ser alterado). Mas eu vou ter mais tempo pra fazer as páginas e aí eu tento compensar.
Acho que essa situação é um caso clássico que eu não saberia como enfrentar se não tivesse conhecido esse pessoal (desculpa pelos erros de anatomia e proporção aí, Roger =(
Ah, vou contar sobre o dia que conheci o Roger Cruz.
Eu chegava em São Paulo todas as sextas-feiras de manhã, por volta de 8 da manhã e ficava na porta da Quanta esperando o Weberson e a Vãnia chegarem. Eles chegavam e a gente ficava conversando a manhã toda e o dia todo. Foi a melhor coisa pra conhecer o pessoal e fazer amizade com alguns.
Mas na primeira sexta-feira que eu fui pra aula de anatomia, o Cariello chegou lá à tarde (pra pintar um trabalho, se não em engano). Depois que ele terminou esse trabalho, eu saí pra comprar alguma coisa pra comer, porque a aula do Roger ia começar em 1 hora e eu nem tinha almoçado. Eu já tava nervoso, porque a primeira revista que me deu aquela "coisa" de querer desenhar, foi uma revista do Roger, que ele desenhava o Nate Grey. Eu lembro que fiquei fascinado, na página de abertura era uma splash do Nate Grey e a Lamúria andando por uma praça. Eu copiei aquela página tantas vezes!
Enfim....
Fui ao restaurante atrás da Quanta e comprei um pacote de bolachas passatempo e uma lata de coca-cola. O Cariello me ouviu chegar na escola e começou a me gritar. Literalmente, gritar. Quando ele dava esses surtos, eu já me encolhia.
Eu fui chegando perto da cozinha (que era de onde os uivos tavam saindo) e ele veio no corredor dizendo: Veeem aqui!! Vou te apresentar pro seu novo professor! O Roger tá aqui.
Eu comecei a gaguejar e tremer.
"N-não! E-eu vejo ele na hora da aula!"
Entrei na cozinha arrastado e o Cariello me empurrava por trás. Me parou a um metro do Roger e disse. Bruno Oliveira, Roger Cruz. Roger Cruz, Bruno Oliveira.
E o Roger tava lá. Sentado na mesa, comendo. Igual a gente come também, sabe?
Ele me cumprimentou, pegando na minha mão. E eu lembro até hoje, exatamente o que pensei nesse segundo: ele tá me cumprimentando com a mão direita!! A mão que ele desenha!!!
A conversa não durou muito tempo, eu saí pra "arrumar umas coisas" (leia-se: limpar a obra feita nas calças).
Quando tava saindo, eu comecei a tremer mais do que já tava e derramei coca-cola perto do moço.
Pra minha sorte, ele e Cariello já estavam conversando empolgadamente e nem me notaram muito enquanto eu me abaixava pra limpar.
É, tô relendo e vi que é outra história em que eu pareço babaca, mas fazer o que. É o que é.
Valeu, gente!!

Sunday, February 24, 2008

Eu estudei na Quanta Academia de Artes de Março de 2004 até Agosto de 2005, se não me engano. Fiz o curso de HQ e depois fiz o de Anatomia com o Roger.
Lá eu conheci as pessoas mais incríveis.
Eu ia toda semana pra SP com um sorriso na cara e voltava com um maior ainda, pensando no dia que eu tinha acabdo de ter (quem gosta de Quadrinhos e não iria ficar bobo por ter Ivan Reis, Octavio Cariello e Roger Cruz como professores? As vezes nem sempre desenhando, mas ver esses caras tomando café, pedindo comida chinesa.)
Mas eu queria parecer cool perto deles (óbvio que eu não conseguia.)
Tem até uma história engraçada da primeira vez que vi o Roger Cruz, derramei refrigerante porque tava com a mão tremendo.
Mas isso é outra história. Aliás, tenho várias.

Uma das pessoas mais... bom, não há bem um adjetivo pra definir. Mas uma das pessoas que mais mudou minha forma de ver as pessoas, quadrinhos, arte, o mundo, a vida foi Octavio Cariello.
Eu continuo sendo um fã (daqueles babão mesmo) desse cara.

Uns dois anos atrás, eu, a Julia Bax, Sabrina Eras, Leo Augusto, Klayton Luz, Wilson Jr e uns convidados resolvemos fazer um fanzine. Não deu muito certo, mas cheguei a entrevistar o Cariello pra primeira edição.
Foi legal porque eu podia dar a desculpa de fazer as perguntas de fã que eu sempre quis fazer, mas estava ocupado demais tentando parecer "do meio" deles.
A entrevista foi feita por MSN (mantive o formato), mas alterei algumas coisas, a forma que eu perguntei, porque eu reli e vi que estou completamente retardado em cada pergunta. Então reduzi as besteiras que eu disse (mas bem pouco) pra que todo mundo possa ler a entrevista sem achar que eu quero dar a bunda pro Cariello (mesmo depois de alterada, ainda parece que quero dar a bunda pra ele).

Essa é uma das entrevistas mais legais que eu já li. Não porque eu entrevistei, mas porque sempre que leio entrevistas, é aquela coisa sem graça e que realmente já não adiciona nada pra quem tá lendo. Quem não sabe o começo da carreira do Roger? Do tio dele? Quem não sabe que o Ivan trabalhou no Maurício? Entrevistar é legal e eu tenho vontade de fazer isso mais.

Foi divertido e como o zine não saiu, resolvi postar aqui pra todo mundo que gosta de entrevista e que gosta do Cariello.

Beijo, fessôr!
Valeu por tudo!
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Bruno oliveira diz:
Oi, Cariello, tudo bem???
Cuco maluco diz:
Com sono!
Bruno oliveira diz:
Hahaha, pois é, foi mal o atraso.
Cuco maluco diz:
Hahahahaha. não houve atraso, houve desencontro.
Bruno oliveira diz:
Vamos bem do início. Quando você começou a desenhar?
Bruno oliveira diz:
Chegou a fazer curso?
Cuco maluco diz:
Nunca fiz curso, não.
Cuco maluco diz:
Ao menos, nenhum curso formal.
Comecei a desenhar quando a mão passou a ter firmeza pra segurar qualquer material que transferisse algo parecido com pigmento pra uma superfície qualquer.
Isso deve ter sido antes de completar um ano.
Faz uns quarenta e dois anos - por aí...
Bruno oliveira diz:
Putz, isso é legal... Sabia que meu sonho era dar entrevista e falar que eu era autodidata? Eu lia entrevista com você, o Roger... Todo mundo autodidata!
Cuco maluco diz:
Houve um tempo em que senti a falta de um curso formal.
Cuco maluco diz:
Hoje, isso não faz diferença.
Bruno oliveira diz:
Por impaciência?
Cuco maluco diz:
Havia coisas que eu não sabia, não sabia onde buscar, nem como aprender - eu sentia que havia coisas importantes a serem aprendidas e tinha pressa de saber mais e mais - isso lá pelos idos dos quatorze, quinze anos (1977). Pressa, mais pressa que impaciência.
Coisas de adolescente babão com pressa de chegar em algum lugar. Aos poucos fui percebendo que havia tempo pra cada descoberta, cada novo desafio a enfrentar e que muitas das batalhas eu não venceria jamais.
Bruno oliveira diz:
Ah, entendi... Mas você já tinha algo em mente? Trabalhar pra alguém especificamente?
Cuco maluco diz:
Sonho em trabalhar para alguém? não
Alguns de meus amigos hoje falam que planejavam desenhar com esse ou aquele artista ou editor. Nunca tive disso, não minha idéia era desenhar, pintar, sempre mais e melhor. Sonhei em ter alguns álbuns "The Art of cariello" - hahahahaha!
Bruno oliveira diz:
Sua motivação era ser bom pra você... Ao invés de ser bom pra alguém, uma editora?
Cuco maluco diz:
Não me ligava muito no mercado, nem pretendia, de início, transformar o desenho em trabalho, tanto que fui estudar medicina e depois arquitetura. Continuei desenhando, sempre, e ganhando trocados com o desenho, mas o foco do trabalho estava e outras áreas.
Eu queria ser astrônomo ou físico, queria poder desvendar os segredos do universo.
Bruno oliveira diz:
Isso é engraçado...
E quando rolou o primeiro trampo? Foi desenho? Já tava na faculdade?
Cuco maluco diz:
Antes da faculdade, coisa de vizinhos, amigas de minha mãe (como toda mãe-coruja, vivia alardeando pra todos que os filhos eram artistas talentosos - essas coisas que deixam a gente com vergonha).
Cuco maluco diz:
Meu irmão sempre foi mais tenaz em relação a transformar desenho em trabalho, em ganha-pão. Desde cedo ele se interessava em desenhar personagens dos gibis.
Bruno oliveira diz:
Quantos anos você tinha quando começou a mexer com desenho mais profissionalmente?
Cuco maluco diz:
Faz vinte e três anos. Eu tinha 20 então, estava na faculdade de medicina quando tive meu primeiro trabalho publicado.
Cuco maluco diz:
Com assinatura e tudo - horrível, mas era meu!
Bruno oliveira diz:
Que legal... O que era?
Cuco maluco diz:
Uma caricatura do presidente da época, o General Figueiredo.
Bruno oliveira diz:
Nossa, hahaa, isso é muito louco! Saiu aonde isso?
Cuco maluco diz:
Bem ruim mesmo. Nem parece com ele. Saiu num jornal sindical (eu estava metido até o pescoço com o movimento político).
Bruno oliveira diz:
Você sempre foi de defender "ferrenhamente" suas idéias, né??
Cuco maluco diz:
Sempre acreditei que é preciso fazer alguma coisa para mudar as coisas que não estão, mas nunca fiz parte de qualquer ala radical funcionando como deviam. Acho que sou bem mais radical hoje do que na adolescência.
Bruno oliveira diz:
Não costuma ser assim... Adultos vão ficando acomodados... Estúpidos... sinceramente
Bruno oliveira diz:
E sua família apoiava essa coisa de trabalhar com desenho?
Cuco maluco diz:
Sim, nunca tivemos problemas muito sérios com resistências a sermos artistas, não. Todo pai espera que seus filhos sejam bem sucedidos e trabalhar com algo fora do padrão pode parecer muito arriscado, mas nossos pais nos apoiaram na maior parte do tempo nossa família sempre esteve envolvida com arte.
Bruno oliveira diz:
Isso é muito bom e, não importa quanto tempo passe, sempre alguns a cada nova geração passa por uma reprovação... Dos pais, amigos, outros parentes...
Cuco maluco diz:
Todos são afinados, tocam algum instrumento. Meus pais fizeram parte de corais, tínhamos saraus em casa, cantatas e coisas do tipo. Tínhamos uma biblioteca farta e bem sortida, enfim, um ambiente pequeno-bruguês que nos deixava respirar arte pra tudo que era lado.
Você sabe que isso é muito, muito raro...
E chegar em São Paulo?? Pra que isso?? Quando?
Cuco maluco diz:
Pra fazer um longo drama ficar curto: vim atrás de um trabalho mais estável e de um grande amor. Desde cedo as viagens de recife a São Paulo se transformaram em coisa comum. Quando mudei pra São Paulo eu já conhecia a cidade muito bem
Bruno oliveira diz:
E achou???
Cuco maluco diz:
Não, né? mas fiquei até hoje, assim mesmo!
Bruno oliveira diz:
Você ia sempre pra São Paulo?
Cuco maluco diz:
Sim. Freqüentemente. Perdi o número de vezes que vim até aqui - de ônibus, de avião, de carona de caminhão, de carro...
Bruno oliveira diz:
Caramba!
Qual foi o primeiro trabalho profissional de quadrinhos aqui pro Brasil??
Cuco maluco diz:
Em Recife mesmo, em 1986 ou 85 (não lembro direito) pra um jornal de circulação local chamado O Rei Da Notícia, editado por Clériston Andrade. Publiquei páginas de personagens meus de uma série chamada Neopós. Como eu tinha um amigo que trabalhava numa rádio lá, o grupo de personagens tinha até fã-clube! Hehehe. Era engraçado...
Bruno oliveira diz:
Hahaha, que legal. Muitos passam a vida sem publicar um personagem próprio!! E você tinha até fã-clube???
Cuco maluco diz:
Se eu tivesse permanecido em Recife, talvez tivesse me transformado numa personalidade conhecida por lá.
Bruno oliveira diz:
E o Amigo da Onça???
Cuco maluco diz:
Foi um trabalho bacana feito em parceria com Jal, inicialmente pra revista Semanário, e depois pra Revista 2000 do Estadão (OESP). Passamos três anos trabalhando com o personagem, na primeira, criávamos uma página semanal.
Bruno oliveira diz:
Parece que o processo era todo meio maluco, roteiros por telefone... Como era, explica aí direitinho.
Cuco maluco diz:
Na segunda foram cinco ou seis páginas mensais (o número exato de edições que durou a publicação). O Jal me ligava na noite anterior à entrega da página e ficava bolando a piada enquanto conversávamos sobre o cenário político do Brasil e do mundo. Eu ficava irritado, às vezes, por que tinha que varar a madrugada.
Bruno oliveira diz:
Um dia antes??
Cuco maluco diz:
Mas me divertia na maior parte do tempo. A página tinha que ser entregue na manhã da quarta-feira - ele me ligava na noite da terça.
Bruno oliveira diz:
Caralho... E você desenhava e fazia arte-final? Ou tinha cor também?
Cuco maluco diz:
E eu trabalhava no departamento de arte de uma empresa - tinha que bater ponto e coisa e tal... Desenho, cor e letras. Tudo prontinho.
Bruno oliveira diz:
Que loucura... por isso que hoje você faz umas coisas absurdas (do tipo pintar com café) em minutos!! (isso de pintar com café me chocou no dia)
Cuco maluco diz:
Depois de muito reclamar, ele resolveu criar umas piadas "frias" pra que eu desenhasse com antecedência, mas sempre surgia um assunto "quente" que era mais importante e lá ia minha noite pras cucuias....
Bruno oliveira diz:
Isso é muito incrível! Foda saber disso!!
Cuco maluco diz:
Invariavelmente, trabalhar com arte significa não fazer arte, mas sim cumprir prazos. Se você for capaz de fazer alguma arte dentro do prazo, maravilha! Se não, vai sem arte nenhuma mesmo!
Bruno oliveira diz:
Vocês sempre passaram isso bem lá na Quanta. A diferença entre trabalho e arte.
Cuco maluco diz:
Aí valem os anos de prática e toda a técnica em deixar coisinhas sem importância terem alguma graça
Bruno oliveira diz:
E como surgiu trabalho pros gringos?
Cuco maluco diz:
Fui convidado pelo Hélcio de Carvalho do Art & Comics - resisti no começo, mas ele insistiu - cedi e acabei gostando da coisa. Foi uma experiência muito boa - cansativa, estressante, mas muito bem paga.
Bruno oliveira diz:
Como era seu ritmo na época??
Cuco maluco diz:
Era diferente, ia mudando de acordo com meu humor e com a lua, mas costumava ser assim: trabalhava dois dias (produzia cinco páginas) e coçava o saco (ia ver peças de teatro, exposições em galerias de arte e museus, via filmes e comia em bons restaurantes) durante os outros cinco dias da semana. Um vidão... Hélcio ficava maluco comigo...
Bruno oliveira diz:
Hahaha, adorei!! Isso devia ser incrível!!
Bruno oliveira diz:
Quando você entrou nisso, já trampava com desenho há muito tempo?
Cuco maluco diz:
Já. Isso foi em 1989. Eu já tava com um ritmo bem bacana e trabalhava mais rápido com pincéis do que com nanquim e penas. As primeiras edições em que trabalhei fiz desenho e arte-final a nanquim.
Bruno oliveira diz:
O que era?
Cuco maluco diz:
Trancers, Torg, Lovecraft e BloodChilde.
Depois que o Hélcio descobriu que eu sabia pintar foi atrás de trampos pintados, daí surgiu a Rainha dos Condenados. Nos quatro primeiros eu fiz minha própria arte-final.
Bruno oliveira diz:
Putz, esse é lindo!
Cuco maluco diz:
Os dois primeiros volumes de Trancers são um horror!
Bruno oliveira diz:
Você demorava muito por adicionar pintura na sua rotina? Ou rolava da mesma forma?
Cuco maluco diz:
Gosto do trabalho em Torg, gosto mais de lovecraft e adoro BloodChilde.
Cuco maluco diz:
Tinta? Não. Pintava no mesmo ritmo em que fazia páginas a nanquim, talvez fosse até mais rápido.
Bruno oliveira diz:
Caralho, Cariello!
E o que mais você fez pros americanos?
Bruno oliveira diz:
Você fez Wolverine, né? Fez deathstroke pra DC
cuco maluco diz:
Fiz coisinhas desimportantes: Wolverine, Deathstroke, Black Lightning.
Bruno Oliveira diz:
Hahahahaha, isso, zoa de quem tá querendo entrar nisso, hahahaha
Cuco maluco diz:
Sério! São os trabalhos mais desimportantes que fiz pros gringos. A única grande satisfação foi ter trabalhado com meu irmão, eu fiz os desenhos e ele arte-finalizou uma história do Deathstroke pro especial Annual 4.
Bruno oliveira diz:
Não sabia.
Cuco maluco diz:
Ficou bacana.
Bruno oliveira diz:
E por que você parou? Cansou?
Cuco maluco diz:
E a história é muito boa. Cansou!
Talvez até volte a fazer alguma coisa pros americanos, mas não me sinto muito disposto, hoje. Pelo menos hoje, não...
Amanhã vai ser outro dia...
Bruno oliveira diz:
Como surgiu a Fábrica, que virou Quanta, que ainda é Quanta?
Bruno oliveira diz:
Você já tinha parado de trabalhar pros americanos?
Cuco maluco diz:
Tinha dado um tempo. Fui convidado pelo Campos a participar de um estúdio-escola que ele vinha discutindo com o Jotapê e o Vilela.
Na primeira reunião em que participei, estavam lá, também, o Roger, o Luke, o Fabinho e o Manolo. A segunda reunião foi no meu apartamento.
Bruno oliveira diz:
Putz, bastante gente.
Cuco maluco diz:
o Luke, o Manolo e o Fabinho se juntaram ao Klebs, algum tempo depois pra criar a Impacto.
Ficamos Campos, Jotapê, Roger, Vielela e eu e criamos a Fábrica.
(Luke Ross, Manny Clark, Fabio Laguna, Jotapê Martins, Rogério Vilelea, Roger Cruz, Marcelo Campos, Klebs Jr).
Bruno oliveira diz:
Hahaha, ok.
Cuco maluco diz:
Havia muito movimento por causa dos artistas trabalhando pros EUA. Surgiram muitas pessoas querendo desbancar o A&C no agenciamento da rapaziada, tudo parecia que ia estourar, como estourou. Mas foi nas mãos de alguns desavisados. Hehehe
No começo foi difícil, mas depois fomos aprendendo.
Bruno oliveira diz:
Como assim estourou? O que aconteceu?
Cuco maluco diz:
Muita coisa. Em 1997 havia mais de trinta artistas brasileiros trabalhando pros EUA. Os americanos chamaram isso de The Brazilian Invasion.
Bruno oliveira diz:
Putz, q louco!!
Cuco maluco diz:
Depois de todos os problemas que os primeiros enfrentaram, tinha chegado a vez da segunda leva: o Roger, Fabinho, Luke, Manny e muitos outros estavam entre eles.
Roger estava já bem estabelecido já como o grande nome das HQs. A escola começou muito bem graças ao nome dele.
O Campos era respeitado por tudo que ele havia feito na Marvel e na DC.
Vilela e eu éramos razoavelmente conhecidos no mercado editorial brasileiro e americano. A escola ia de vento em popa.
E o estúdio começou com o pé direito porque Jotapê conhecia muita gente e tinha um jeito todo especial em vender nossa empresa - fizemos, de cara, um vídeo clipe pros Titãs.
Bruno oliveira diz:
E por que acabou??
Cuco maluco diz:
Acabou porque gente quando se reúne faz confusão.
Ninguém morreu, mas era impossível continuar convivendo depois de certas brigas. Jotapê foi o primeiro a sair, um ano depois. Mais um ano e foi o Roger. Aí entrou o Eduardo Schaal.
Bruno oliveira diz:
Vocês são, vocês eram os fodas (tanto aqui quanto lá fora), rolava crise de ego?
Cuco maluco diz:
Crise de ego? Os fodas? Éramos apenas artistas trabalhando. Tentando fazer o que de melhor podíamos
Bruno oliveira diz:
Uma pergunta bem pessoal, ainda hoje, quando você tá lá, trampando em cima do papel, rola umas reflexões estranhas? Umas dúvidas sobre o universo, viajar mesmo?
Cuco maluco diz:
Não!
Cuco maluco diz:
Eu costumo refletir sobre o universo sem fazer muito mais coisas além disso! Quando eu tô desenhando eu costumo pensar em algumas coisas bem bobas... Eu faço caretas e os prováveis sons emitidos pelos personagens que eu tô desenhando ou fico pensando: já tá quase no fim... já tá quase no fim... Tenha mais paciência. Lava o rosto - já tá quase no fim.
Bruno oliveira diz:
Legal saber disso, hahaha!!
Cuco maluco diz:
Às vezes paro pra comer alguma coisa ou pra bater um punheta e volto pro trabalho. Nem sempre feliz - hehe
Bruno oliveira diz:
hahahaha
Putz, mas você é rápido pra caralho. Rolava essa "agonia" com o tempo pra produzir?
Cuco maluco diz:
Uma hora parece uma eternidade quando você tá com sono ou com vontade de fazer cocô.
bruno oliveira diz:
Hahaha
Bruno oliveira diz:
Nunca rolou nervosismo ("ah, esse projeto é importante por causa disso, ou daquilo")
Cuco maluco diz:
Eu, heim!
Bruno oliveira diz:
O que?
Cuco maluco diz:
Eu preciso pagar contas - isso é importante.
Eu quero viajar pra Europa - isso é importante.
Eu quero ler esse ou aquele livro, ver esse ou aquele filme - isso é importante.
Quero comer naquele restaurante - isso é importante.
Bruno oliveira diz:
Caralho, você não faz idéia do quanto isso é fascinante, fessôr! Um "abrir de olhos".
Cuco maluco diz:
Projeto é trabalho
Trabalho nunca é mais importante do que viver.
Bruno oliveira diz:
Puta lição... putz
E ensinar? Ser professor? É bom?
Cuco maluco diz:
Muito! Aprende-se muito dando aulas. E é uma chance inigualável de passar um pouquinho de conhecimento qualificado pra quem realmente se interessa.
Bruno oliveira diz:
O que, de mais importante, você já aprendeu dando aulas?
Cuco maluco diz:
O que de mais importante eu CONTINUO aprendendo, a cada aula, é que as pessoas são muito parecidas.
Bruno oliveira diz:
Em q sentido?
Cuco maluco diz:
Em todos.
Bruno oliveira diz:
É mesmo?
Cuco maluco diz:
De cima, de baixo, de lado, de frente, de costas...
Por dentro e por fora.
Bruno oliveira diz:
Bom, você acabou de falar das pessoas que se interessam e as que não se interessam.
Onde pode tá a semelhança nisso?
Cuco maluco diz:
Eu morro de medo do escuro na pele de tal aluno, viajo nas corredeiras destemido na pele daquela loirinha, fumo maconha com os pulmões do negro e rezo o pai nosso com os lábios da ruiva lá de trás.
Cuco maluco diz:
Fodo com o tempo com o rapaz que não quer saber do que o professor está falando e faço amor com a noite com o corpo da mocinha interessada em cada detalhe do meu discurso. E cada vez sou mais eu e sou mais ninguém e sou mais todos.
Bruno oliveira diz:
Caralho, Fessôr!! Agora você botou pra foder!!
É uma das coisas que continua sendo bom te encontrar!
Cuco maluco diz:
E entendo o gesto, o olhar, a palavra, o palavrão, o elogio, a crítica, o brilho e o opaco. E entendo mais a todos e a mim mesmo. E entendo mais o que significa ser deus. O que é ser importante e não ter importância alguma. Somos todos iguais, infelizmente, nem todos conseguem ver isso.
Cuco maluco diz:
Hahaha! Ensinado a gente aprende
Bruno oliveira diz:
Até que enfim alguém explicou porque que ensinando se aprende!
Cuco maluco diz:
hahahahaha!

Bruno oliveira diz:
Pra encerrar, fessôr, como estão as coisas hoje? Com relação à vida, a Quanta, os trabalhos?
Cuco maluco diz:
A vida é hoje. A Quanta continua sendo o lugar onde aprendo muito e tento ensinar algumas coisas. Os trabalhos são o que são quando acontecem e o futuro vai virar hoje, já já, sem pressa.
Bruno oliveira diz:
Meu, na boa, você é uma cara de ouro, Cariello
Sem viadagem, hahaha!
Cuco maluco diz:
hehe
Bruno oliveira diz:
E o que você pode dizer pros que ainda tentam encontrar seu rumo?
cuco maluco diz:
Muita gente comete um erro doloroso ao procurar a felicidade fora de si mesmos. Muita gente acha que se fizer isso ou cumprir aquilo ou conseguir aquilo outro, ou trepar com esse, ou transar com aquele, ou amar aquela outra vai ser feliz e realizado. A verdade não está lá fora!!! Está lá dentro!
Se se puder ver a verdadeira riqueza, a felicidade estará apenas a um toque de distância de ser alcançada. Todo o resto é conseqüência dessa boa relação com você mesmo!
Bruno oliveira diz:
Que lição!!
Cuco maluco diz:
As conquistas e os desafios são meras passagens, portais pra outros níveis com mais desafios (quem joga algum game sabe do que eu tô falando). O legal é que a vida só tem fim quando chegarmos à conclusão que já não temos muito a prender!
Que a vida seja vivida hoje, como um grande aprendizado de felicidade (sem exagerar no hedonismo - a eterna busca insana pelo prazer). O resto será conseqüência e uma das boas.
É isso, acho!
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