Saturday, November 06, 2010

Eu assassinei alguém hoje.

Pelo menos é essa a sensação.
Eu sempre assisto Criminal Minds e de vez em quando vejo o que o AXN tá passando de CSI. Invariavelmente, os assassinos são descritos (pelos mocinhos) como sendo pessoas que sofreram algum grande trauma (geralmente na infância) e então todos os crimes que eles cometem, são só reflexo do que lhes aconteceu. Tem alguns casos em que alguém já na beira do precipício acaba empurrado por algum “catalisador” (esposa larga, perde o emprego, etc.). Esse catalisador destrava alguma coisa no indivíduo que sai matando.

O que eu acho muito interessante é que os bonzinhos dizem que os assassinatos são a repetição de alguma coisa que aconteceu com eles (ou pelo menos, repetindo o que eles sentem que aconteceu - o que é muito mais importante do que os fatos para a percepção).
Então, raciocinando um pouco, os assassinatos são a expressão do que eles sentem com mais força.
E revisitar a cena do crime, não é só reviver o que eles fizeram, mas também admirar aquela obra.
É isso que acho quando escrevo.
Tenho uma coisa intalada na garganta faz tempo. E eu confesso que tentei diversas vezes colocar pra fora. Seja falando com a pessoa envolvida. Seja xingando ela sozinho no meu quarto. As vezes recebo ajuda do bom e velho subconsciente, que me cria um cenário em que eu possa resolver esses problemas com a pessoa em algum sonho maluco que acaba mal-interpretado.

E faz quatro anos que tentei a alternativa de escrever. E sempre que eu tentava escrever sobre esse assunto, eu perdia noção do horário, ficava sem comer, não conseguia trabalhar nem sair. Ainda assim, nada realmente saía. Era só uma confusão de sentimentos, fatos e opiniões que eu não conseguia definir bem pra contar uma história.
O que é ainda mais bosta. Frustrante pra caralho.
O difícil de escrever sobre uma coisa que realmente te aconteceu e te marcou (assim como o trauma marca o assassino) é que aquilo te marca de tal forma que seu “trabalho” passa a ser querer que a pessoa que leia sinta essa coisa. Mas se eu descrevo exatamente o que me aconteceu, pode ser que ela não sinta o que eu sinto. Afinal, descrevendo exatamente o que aconteceu, eu só consigo lhe passar os fatos. Quando na verdade, a minha interpretação dos fatos é muito mais importante pra sentir determinada coisa que eu quero.

Então como posso contar a história que eu quero e ainda assim, quem quer que leia, sinta o que eu senti?
Essa foi minha pergunta por uns dois anos.
Tentei metáforas, tentei escrever histórias completamente avessas ao que realmente aconteceu.
Mas não adiantava. Eu precisava conseguir combinar os dois. A porra da história e o sentimento.
Finalmente, depois de 4 anos consegui.
Toda a narrativa foi mudada. A história que quero agora segue um rumo que eu não esperava.
E aparentemente, mantive a sensação. Preciso criar coragem pra emprestar pra alguém ler e me dizer.

Mas o que tem a ver tudo isso com o assassinato?

É que tendo conseguido escrever o que eu queria, contando a história que eu queria, fazendo sentir o que eu acho que deveria ser sentido, eu me senti como um assassino que depois de tentar todas as armas e processos, descobre seu Modus Operandi perfeito.

Escrever e ir criando dessa forma fez eu revisitar o que aconteceu.
Foi foda... e muito bom.
Assim como eu imagino um assassinato, mas de experiência muito mais duradoura. Porque tendo escrito, ainda vou fazer os layouts (e eu sei que trarão suas mudanças ao roteiro), desenhar e de preferência colorir.
E finalmente poder morrer com alguma decência.

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