Eu percebi agora, depois de escrever sobre o sol, a lua e tudo ser tão bom que eu esqueço o quanto essas coisas são importantes.
E eu esqueço que elas são importantes porque elas estão sempre ali presentes, cumprindo sua função.
A gente só lembra que tem uma perna quando ela começa a doer.
Hoje uns tios vieram passar uns dias aqui em casa. Alguns outros parentes vieram pra vê-los (incluindo minha irmã com o noivo).
E agora que todo mundo já tá dormindo há muito tempo e eu finalmente parei de trabalhar que pensei nessa noite.
Eu lembro de todo mundo conversando e brincando.
Contando piadas e tomando cerveja. E minha mãe indo pra lá e pra cá. Andando, ocupada, fazendo questão que tudo esteja limpo, tudo esteja arrumado.
Poucos anos depois do meu pai e minha mãe se separarem, as coisas ficaram complicadas por um tempo. Nada demais, mas digamos que a perna começou a doer.
As coisas que eu e minha irmã estávamos acostumados meio que deram uma pausa. Eu tinha por volta de 6 anos e minha irmã 3.
Com a separação, minha mãe veio pra Uberlândia e meu pai ficou em Uberaba, cidade onde eu nasci.
Eu e minha irmã nos acostumamos rápido a ir pra Uberaba a cada 15 dias e dividir os feriados (Natal com minha mãe, Reveillon com meu pai, aniversários e outras datas a gente conversava.).
E sem saber como o cérebro seleciona as nossas memórias (*Roger Cruz), lembro de uma páscoa em que a gente ia pra Uberaba, mas por algum motivo, ao invés de ir todo sábado de manhã, nessa páscoa a gente estava indo numa Sexta-feira à noite.
Minha mãe levou a gente pra rodoviária e sentamos nós 3 nos bancos laranjas da rodoviária (no andar de baixo, perto do bar.)
Quando o ônibus chegou, minha mãe tirou dois ovos de páscoa com uma embalagem que a gente não conhecia. E ela tirou com uma cara envergonhada. Coma cabeça meio baixa, como se não quisesse ver minha cara ou da minha irmã, ela entregou os ovos e abraçou a gente. Pra variar, os ovos de páscoa eram muito caros desde aquela época e, sem muita grana sobrando ela comprou as formas pra fazer pra gente aquele ano.
É uma historinha boba que não tem porque ninguém entender ou sentir nada a não ser eu e minha irmã.
Quando ela separou do meu pai, a gente veio pra Uberlândia e, todos os nosso parentes deixaram de falar com minha mãe (por motivos que geram outro texto). Minha mãe tinha começado faculdade de Artes Plásticas quando ainda era casada com meu pai mas largou quando eles se separaram porque não via como sustentar a gente com isso.
Então fez pedagogia aqui na UFU.
Quando eu e minha irmã tínhamos provas, era sempre no primeiro horário e o resto dia não tinha aula. Então ela levava a gente (mais a minha irmã que era bem mais nova) pras aulas dela.
Não tenho nada de importante pra dizer. Mas é que minha mãe trabalha muito! Muito mesmo! Ela começou como professora de escola estadual e hoje é inspetora da Delegacia de Ensino.
Ninguém vai ver o quanto ela trabalha.
Ninguém vai saber a não ser a gente que tá perto.
Não vão chamar ela pra dar palestras pra falar da vida dela e de como ela conseguiu isso.
Eu amo muito minha mãe. E agora que ela tá ali dormindo, tô com muita saudade dela.
Ela merece mais do que eu jamais vou conseguir dar pra ela.
1 comment:
Companheiro, primeira vez que entro no seu blog e realmente fico emocionado com uma história dessa, você tem que agradecer por sua "perna ter doido" bem antes de quando elas normalmente doi(quando agente perde esse ente querido),Parabens pela história!
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