Friday, September 10, 2010

Quando se é mais novo, sem muita noção do que vai fazer na vida, a gente gosta das bandas, músicas dessas bandas, no meu caso HQs, filmes, etc. Mas a não ser que realmente acredite que possa conhecer alguns (ou qualquer um) desses ídolos, não existe um pensamento sobre “como será que essa pessoa é”.

Quando descobri que HQs eram feitas por seres humanos e que alguns desse seres humanos eram brasileiros, o pensamento chegou no “como será que essa pessoa é”.
E garantido. De todos os meus “ídolos”, poucos alcançaram o que eu imaginava deles. O que na verdade não é muito justo. Minha imaginação é fértil e ver um trabalho que faz você se sentir inspirado, praticamente gera a imaginação de que quem o fez tenha personalidade divina.
De novo, não é justo pro coitado que tá só tentando fazer um bom trabalho.

Mas recentemente eu convivi alguns dias com um dos desenhistas cujo trabalho eu venho “colecionando” há alguns anos. Eu conheci Eddy Barrows há muito tempo, quando ele trabalhava em G. I. Joe. A gente não se falava muito e eu acredito que eu era só mais um dos que gostava do desenho do cara.
Devagar fomos nos falando mais. Logo ele entrou na DC e era impressionante o que ele fazia. Mas ainda não tinha muito contato. Eu era, pela segunda vez na minha vida, o fã babão.

Mas o tempo passou e aconteceu de eu ajudar com algumas traduções de e-mails e até de roteiros (na passagem dele por Birds of Prey, Atom e 52).
Ele sempre me mandava as páginas mais legais, que eu imprimia e guardava. Quando completava um “bolo” de páginas impressas, eu mandava encadernar pra poder ficar olhando na hora de desenhar. Hábito que mantenho até hoje.
O desenho dele é expressivo, extremamente dinâmico, consegue distorcer perspectiva e anatomia sem parecer errado e... eu nunca imaginei como ele seria ao vivo.
Uma passagem extremamente rápida pelo FIQ não foi suficiente pra sequer querer formar uma opinião sobre ele.
Mas dia 3 de Setembro desse ano eu fui “responsável” por buscá-lo no aeroporto e tentar mostrar a cidade, já que ele vinha para o evento Anime Up.

Eu não sabia como seria e eu que tenho as habilidade sociais de um macaco, levei comigo uma amiga que, de tão doce e carinhosa, me faz parecer normal.

Foi uma coisa absurda. Logo de cara, busquei um Eddy Barrows (e sua esposa sorridente Silvana) tranquilo e ao mesmo tempo empolgado (eu não sabia o motivo-então descobri que não tem motivo. Ele-é-assim-o-tempo-todo!).
No hotel, encontramos o pessoal do evento. Todo mundo já tinha criado sua expectativa, imaginado como seria encontrar o desenhista do Superman. O que foi perda de tempo, porque segundo me disseram, acabou ultrapssando todas as esperanças.

Eddy brincava com todo mundo, sempre de bom humor, sempre mostrando as páginas pela milésima vez, explicando tudo de novo como se fosse a primeira delas.
Quando minha empolgação de “encontrar o desenhista do Superman passou”, comecei a prestar atenção no Edu e na Silvana. Os dois eram uma visão extremamente rara. Porque funciona assim na (minha) vida. Se algo é bom, algo ruim precisa existir pra balancear e essa existência ser equilibrada. Então obviamente, observando como a carreira desse profissional tem sido, o quanto ele é humilde e paciente com os fãs; a vida pessoal tinha que ser “igual e contrária”.
Mas na primeira noite que saímos pra jantar, pude ver um com o outro. A forma que falam de si mesmos e entre si. Perguntamos e contaram a história de vida dos dois (que pra descrever aqui, já teria que ser um outro post dividido em sei lá quantas partes) e passei a vê-los de uma forma completamente... “normal”. Um cara com um trabalho, uma esposa e uma família.
Acho que acostumei a ver o trabalho dos quadrinhos como uma coisa tão fora do normal, quase sobrenatural (o_o) que ver sob essa perspectiva foi reconfortante.

Pra quem não sabe, desenhistas costumam ter horários loucos, trabalhando de madrugada e as vezes não desenhando por uns dias. Depois voltando e trabalhando sem parar.
Mas Eddy Barrows acorda cedo e trabalha até meio-dia, para pra comer e as vezes tirar um cochilo. Por volta das 2 da tarde já está na prancheta e segue assim até as 6, quando para pra buscar os filhos na escola.
Quer coisa mais normal que isso?
Pra quem trabalha em casa, sabe o quanto é difícil manter a disciplina.

Eu escrevi e escrevi e mal completei o primeiro dia.
Depois do jantar, fomos ao supermercado Extra. Lá eles compraram algumas coisas que não tinha no hotel e logo vi os olhos vermelhos dos dois. Nem me toquei que meia-noite era tarde demais pra estar na rua quando se costuma dormir as 11 da noite.

Logo devolvemos os dois pro hotel pra uma noite de descanso. Cheguei em casa com conceitos alterados, alguns renovados e um carinho sem volta por esses dois.