Monday, November 08, 2010

Engraçado o quanto a mente é burra.

Mas é tão confiante, que fica difícil ignorar o que ela mostra, manda e em decorrência da velocidade em que fornece “informação” (que na verdade não é fato, mas só a “opinião” da mente) faz a gente sentir determinada coisa.

Então uma situação (qualquer que seja) ocorre. Uma situação que você não esperava.

Bater o carro, por exemplo.
Se você é dos que pensa em excesso, sua mente imediatamente não só reage, mas pondera todas as possíveis merdas que aquilo vai gerar. Consegue imaginar o quanto vai gastar pra arrumar, a dor de cabeça que vai ser lidar com aquilo agora.

Toda expectativa foi criada. E, acho que 9 dentre 10 pessoas que pensam demais, vão normalmente considerar como mais provável, o pior.
Esses pensamentos vem de experiências anteriores. Nossa mente pega a forma que reagimos como uma base pra nos explicar como vamos reagir a essa nova situação.

O que é ridículo, porque mesmo que as situações sejam muito parecidas, só o fato de não terem acontecido ao mesmo tempo, é prova de que será impossível correr exatamente como foi da primiera vez.

Vão ter diferenças que, se a mente deixar, fazem você ver que ela estava errada. Que aquilo não era tão ruim quanto imaginou. Ou que mesmo que seja tão ruim, só de ser diferente já é um grande avanço. (Porque tédio é o que anestesia nossa percepção, nos deixa em piloto automático, como assistir um filme repetido. E perder o interesse é o que tira a vontade de viver).

Mas quem consegue ir contra a mente assim? Ignorar um troço tão inteligente, que é tão valorizado. Que coloca ideias na sua cabeça sem você pedir. Que soluciona problemas.
E mais importante, que parece agir independente do que você realmente é, antes de “você” resolver o que quer, a mente já apresentou a opinião dela.
É quase como se a mente fosse uma coisa e “você” outra.

Esse “você” geralmente é bem quieto. Não fala quase nada. É calmo e paciente, mas não raciocina.
Tem gente que chama isso de “o ser” da pessoa.
Mas os cientistas dividem o cérebro em hemisfério direito e esquerdo.

O esquerdo é o que usamos com mais frequência, é o que comanda a situação que descrevi no acidente de carro. O direito é o que percebe as coisas, que não tem noção do tempo, e é independente de situações passadas (ao contrário do esquerdo, ele não se baseia em algo que já ocorreu pra poder repetir e mostrar pra gente.)

Resumidamente, o lado esquerdo é o frio analista. O lado direito, o sensível que gosta de se divertir.
E pra quem trabalha com desenho, é impossível realizar um bom trabalho (os entendidos que se entendam sobre o que é bom) sem o lado direito.

O problema, é que o lado esquerdo sabe calcular quantas contas você tem pra pagar. Ele pensa sobre sua namorada (o que significa aquilo lá que ela disse ou fez), sobre sua família, sobre “que foi que você tava pensando quando resolveu seguir essa carreira?”

O mais incrível, é que o hemisfério esquerdo, por estar mais presente na nossa vida, é muito convincente. Tão convincente que, mesmo que você tenha provas que tudo anda bem na sua vida, ele consegue te convencer e te derrubar, achando que isso vai te preparar pra quando alguma merda realmente ocorrer.

E nessa briga, lado direito contra o esquerdo, como fazer o direito vencer?
Melhor ainda, por que o direito deveria vencer? (E não acho que vale só pra desenhistas).

Eu odeio meu hemisfério esquerdo. Ele é o melhor advogado do universo. raramente perdeu uma causa.
Mas sempre que perdeu, pro lado direito ainda por cima, sempre me deixou feliz.
Foram as vezes que consegui ir contra todas as merdas que o lado esquerdo me jogava, recusei-as como verdades e fiz meus rabiscos lá, me divertindo.
Lado esquerdo não consegue fazer isso.
As vezes que ele proporciona felicidade, é quando ele consegue criar uma falsa segurança de que tudo vai ficar bem. E entre ficar feliz pelo que eu tô fazendo na hora e ficar feliz por uma promessa dos neurônios, eu prefiro ficar feliz pelo que eu tô fazendo.

Eu preciso lutar todo dia contra o lado esquerdo. Ele tem suas utilidades, mas não deveria ser o hemisfério predominante. E nem o direito aliás. O motivo de ser dois lados de um órgão é que na teoria, os dois deveriam ser utilizados quando fossem necessários.

E briguei sempre, tanto com esse lado esquerdo que insiste em ser o predominante (ainda mais quando eu preciso que ele fique quieto e me deixe viver minha vida, ao invés de pensar e querer me provar que vou perder tal coisa ou pessoa -e que pra isso não ocorrer, preciso tomar medidas urgentes), que já busquei psicólogos, religiões, filosofias, tudo que é coisa que prometia ensinar como controlar essa merda. Um mais ineficiente que o outro. O que foi bom pra descobrir o que não funciona.

E é aí que atinjo meu ponto. É presunção eu achar que posso ensinar algo assim pra qualquer um (quando, quem me conhece, sabe que não dou elogios a esse hábito de pensar demais).
Nem presunção de que alguém vá ler esse texto até o final, eu tenho.
Mas a intenção não era escrever algo útil.
Na verdade, eu escrever aqui é só minha mais nova tentativa de tentar lidar com meu lado esquerdo.
Algum merda me invadiu a mente e ela, como um cachorro empolgado, precisava ser distraída pra me deixar em paz. Ter twitter ou isso aqui são só minhas mais novas formas de tentar controlar minha mente.
Desculpa quem chegou até aqui pensando ter alguma coisa útil.
Mas pra quem tem interesse em saber sobre os hemisfério, aqui tem uma página porca, mas eficiente e muito bem resumida:
















Saturday, November 06, 2010

Eu assassinei alguém hoje.

Pelo menos é essa a sensação.
Eu sempre assisto Criminal Minds e de vez em quando vejo o que o AXN tá passando de CSI. Invariavelmente, os assassinos são descritos (pelos mocinhos) como sendo pessoas que sofreram algum grande trauma (geralmente na infância) e então todos os crimes que eles cometem, são só reflexo do que lhes aconteceu. Tem alguns casos em que alguém já na beira do precipício acaba empurrado por algum “catalisador” (esposa larga, perde o emprego, etc.). Esse catalisador destrava alguma coisa no indivíduo que sai matando.

O que eu acho muito interessante é que os bonzinhos dizem que os assassinatos são a repetição de alguma coisa que aconteceu com eles (ou pelo menos, repetindo o que eles sentem que aconteceu - o que é muito mais importante do que os fatos para a percepção).
Então, raciocinando um pouco, os assassinatos são a expressão do que eles sentem com mais força.
E revisitar a cena do crime, não é só reviver o que eles fizeram, mas também admirar aquela obra.
É isso que acho quando escrevo.
Tenho uma coisa intalada na garganta faz tempo. E eu confesso que tentei diversas vezes colocar pra fora. Seja falando com a pessoa envolvida. Seja xingando ela sozinho no meu quarto. As vezes recebo ajuda do bom e velho subconsciente, que me cria um cenário em que eu possa resolver esses problemas com a pessoa em algum sonho maluco que acaba mal-interpretado.

E faz quatro anos que tentei a alternativa de escrever. E sempre que eu tentava escrever sobre esse assunto, eu perdia noção do horário, ficava sem comer, não conseguia trabalhar nem sair. Ainda assim, nada realmente saía. Era só uma confusão de sentimentos, fatos e opiniões que eu não conseguia definir bem pra contar uma história.
O que é ainda mais bosta. Frustrante pra caralho.
O difícil de escrever sobre uma coisa que realmente te aconteceu e te marcou (assim como o trauma marca o assassino) é que aquilo te marca de tal forma que seu “trabalho” passa a ser querer que a pessoa que leia sinta essa coisa. Mas se eu descrevo exatamente o que me aconteceu, pode ser que ela não sinta o que eu sinto. Afinal, descrevendo exatamente o que aconteceu, eu só consigo lhe passar os fatos. Quando na verdade, a minha interpretação dos fatos é muito mais importante pra sentir determinada coisa que eu quero.

Então como posso contar a história que eu quero e ainda assim, quem quer que leia, sinta o que eu senti?
Essa foi minha pergunta por uns dois anos.
Tentei metáforas, tentei escrever histórias completamente avessas ao que realmente aconteceu.
Mas não adiantava. Eu precisava conseguir combinar os dois. A porra da história e o sentimento.
Finalmente, depois de 4 anos consegui.
Toda a narrativa foi mudada. A história que quero agora segue um rumo que eu não esperava.
E aparentemente, mantive a sensação. Preciso criar coragem pra emprestar pra alguém ler e me dizer.

Mas o que tem a ver tudo isso com o assassinato?

É que tendo conseguido escrever o que eu queria, contando a história que eu queria, fazendo sentir o que eu acho que deveria ser sentido, eu me senti como um assassino que depois de tentar todas as armas e processos, descobre seu Modus Operandi perfeito.

Escrever e ir criando dessa forma fez eu revisitar o que aconteceu.
Foi foda... e muito bom.
Assim como eu imagino um assassinato, mas de experiência muito mais duradoura. Porque tendo escrito, ainda vou fazer os layouts (e eu sei que trarão suas mudanças ao roteiro), desenhar e de preferência colorir.
E finalmente poder morrer com alguma decência.