Sunday, February 24, 2008

Eu estudei na Quanta Academia de Artes de Março de 2004 até Agosto de 2005, se não me engano. Fiz o curso de HQ e depois fiz o de Anatomia com o Roger.
Lá eu conheci as pessoas mais incríveis.
Eu ia toda semana pra SP com um sorriso na cara e voltava com um maior ainda, pensando no dia que eu tinha acabdo de ter (quem gosta de Quadrinhos e não iria ficar bobo por ter Ivan Reis, Octavio Cariello e Roger Cruz como professores? As vezes nem sempre desenhando, mas ver esses caras tomando café, pedindo comida chinesa.)
Mas eu queria parecer cool perto deles (óbvio que eu não conseguia.)
Tem até uma história engraçada da primeira vez que vi o Roger Cruz, derramei refrigerante porque tava com a mão tremendo.
Mas isso é outra história. Aliás, tenho várias.

Uma das pessoas mais... bom, não há bem um adjetivo pra definir. Mas uma das pessoas que mais mudou minha forma de ver as pessoas, quadrinhos, arte, o mundo, a vida foi Octavio Cariello.
Eu continuo sendo um fã (daqueles babão mesmo) desse cara.

Uns dois anos atrás, eu, a Julia Bax, Sabrina Eras, Leo Augusto, Klayton Luz, Wilson Jr e uns convidados resolvemos fazer um fanzine. Não deu muito certo, mas cheguei a entrevistar o Cariello pra primeira edição.
Foi legal porque eu podia dar a desculpa de fazer as perguntas de fã que eu sempre quis fazer, mas estava ocupado demais tentando parecer "do meio" deles.
A entrevista foi feita por MSN (mantive o formato), mas alterei algumas coisas, a forma que eu perguntei, porque eu reli e vi que estou completamente retardado em cada pergunta. Então reduzi as besteiras que eu disse (mas bem pouco) pra que todo mundo possa ler a entrevista sem achar que eu quero dar a bunda pro Cariello (mesmo depois de alterada, ainda parece que quero dar a bunda pra ele).

Essa é uma das entrevistas mais legais que eu já li. Não porque eu entrevistei, mas porque sempre que leio entrevistas, é aquela coisa sem graça e que realmente já não adiciona nada pra quem tá lendo. Quem não sabe o começo da carreira do Roger? Do tio dele? Quem não sabe que o Ivan trabalhou no Maurício? Entrevistar é legal e eu tenho vontade de fazer isso mais.

Foi divertido e como o zine não saiu, resolvi postar aqui pra todo mundo que gosta de entrevista e que gosta do Cariello.

Beijo, fessôr!
Valeu por tudo!
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Bruno oliveira diz:
Oi, Cariello, tudo bem???
Cuco maluco diz:
Com sono!
Bruno oliveira diz:
Hahaha, pois é, foi mal o atraso.
Cuco maluco diz:
Hahahahaha. não houve atraso, houve desencontro.
Bruno oliveira diz:
Vamos bem do início. Quando você começou a desenhar?
Bruno oliveira diz:
Chegou a fazer curso?
Cuco maluco diz:
Nunca fiz curso, não.
Cuco maluco diz:
Ao menos, nenhum curso formal.
Comecei a desenhar quando a mão passou a ter firmeza pra segurar qualquer material que transferisse algo parecido com pigmento pra uma superfície qualquer.
Isso deve ter sido antes de completar um ano.
Faz uns quarenta e dois anos - por aí...
Bruno oliveira diz:
Putz, isso é legal... Sabia que meu sonho era dar entrevista e falar que eu era autodidata? Eu lia entrevista com você, o Roger... Todo mundo autodidata!
Cuco maluco diz:
Houve um tempo em que senti a falta de um curso formal.
Cuco maluco diz:
Hoje, isso não faz diferença.
Bruno oliveira diz:
Por impaciência?
Cuco maluco diz:
Havia coisas que eu não sabia, não sabia onde buscar, nem como aprender - eu sentia que havia coisas importantes a serem aprendidas e tinha pressa de saber mais e mais - isso lá pelos idos dos quatorze, quinze anos (1977). Pressa, mais pressa que impaciência.
Coisas de adolescente babão com pressa de chegar em algum lugar. Aos poucos fui percebendo que havia tempo pra cada descoberta, cada novo desafio a enfrentar e que muitas das batalhas eu não venceria jamais.
Bruno oliveira diz:
Ah, entendi... Mas você já tinha algo em mente? Trabalhar pra alguém especificamente?
Cuco maluco diz:
Sonho em trabalhar para alguém? não
Alguns de meus amigos hoje falam que planejavam desenhar com esse ou aquele artista ou editor. Nunca tive disso, não minha idéia era desenhar, pintar, sempre mais e melhor. Sonhei em ter alguns álbuns "The Art of cariello" - hahahahaha!
Bruno oliveira diz:
Sua motivação era ser bom pra você... Ao invés de ser bom pra alguém, uma editora?
Cuco maluco diz:
Não me ligava muito no mercado, nem pretendia, de início, transformar o desenho em trabalho, tanto que fui estudar medicina e depois arquitetura. Continuei desenhando, sempre, e ganhando trocados com o desenho, mas o foco do trabalho estava e outras áreas.
Eu queria ser astrônomo ou físico, queria poder desvendar os segredos do universo.
Bruno oliveira diz:
Isso é engraçado...
E quando rolou o primeiro trampo? Foi desenho? Já tava na faculdade?
Cuco maluco diz:
Antes da faculdade, coisa de vizinhos, amigas de minha mãe (como toda mãe-coruja, vivia alardeando pra todos que os filhos eram artistas talentosos - essas coisas que deixam a gente com vergonha).
Cuco maluco diz:
Meu irmão sempre foi mais tenaz em relação a transformar desenho em trabalho, em ganha-pão. Desde cedo ele se interessava em desenhar personagens dos gibis.
Bruno oliveira diz:
Quantos anos você tinha quando começou a mexer com desenho mais profissionalmente?
Cuco maluco diz:
Faz vinte e três anos. Eu tinha 20 então, estava na faculdade de medicina quando tive meu primeiro trabalho publicado.
Cuco maluco diz:
Com assinatura e tudo - horrível, mas era meu!
Bruno oliveira diz:
Que legal... O que era?
Cuco maluco diz:
Uma caricatura do presidente da época, o General Figueiredo.
Bruno oliveira diz:
Nossa, hahaa, isso é muito louco! Saiu aonde isso?
Cuco maluco diz:
Bem ruim mesmo. Nem parece com ele. Saiu num jornal sindical (eu estava metido até o pescoço com o movimento político).
Bruno oliveira diz:
Você sempre foi de defender "ferrenhamente" suas idéias, né??
Cuco maluco diz:
Sempre acreditei que é preciso fazer alguma coisa para mudar as coisas que não estão, mas nunca fiz parte de qualquer ala radical funcionando como deviam. Acho que sou bem mais radical hoje do que na adolescência.
Bruno oliveira diz:
Não costuma ser assim... Adultos vão ficando acomodados... Estúpidos... sinceramente
Bruno oliveira diz:
E sua família apoiava essa coisa de trabalhar com desenho?
Cuco maluco diz:
Sim, nunca tivemos problemas muito sérios com resistências a sermos artistas, não. Todo pai espera que seus filhos sejam bem sucedidos e trabalhar com algo fora do padrão pode parecer muito arriscado, mas nossos pais nos apoiaram na maior parte do tempo nossa família sempre esteve envolvida com arte.
Bruno oliveira diz:
Isso é muito bom e, não importa quanto tempo passe, sempre alguns a cada nova geração passa por uma reprovação... Dos pais, amigos, outros parentes...
Cuco maluco diz:
Todos são afinados, tocam algum instrumento. Meus pais fizeram parte de corais, tínhamos saraus em casa, cantatas e coisas do tipo. Tínhamos uma biblioteca farta e bem sortida, enfim, um ambiente pequeno-bruguês que nos deixava respirar arte pra tudo que era lado.
Você sabe que isso é muito, muito raro...
E chegar em São Paulo?? Pra que isso?? Quando?
Cuco maluco diz:
Pra fazer um longo drama ficar curto: vim atrás de um trabalho mais estável e de um grande amor. Desde cedo as viagens de recife a São Paulo se transformaram em coisa comum. Quando mudei pra São Paulo eu já conhecia a cidade muito bem
Bruno oliveira diz:
E achou???
Cuco maluco diz:
Não, né? mas fiquei até hoje, assim mesmo!
Bruno oliveira diz:
Você ia sempre pra São Paulo?
Cuco maluco diz:
Sim. Freqüentemente. Perdi o número de vezes que vim até aqui - de ônibus, de avião, de carona de caminhão, de carro...
Bruno oliveira diz:
Caramba!
Qual foi o primeiro trabalho profissional de quadrinhos aqui pro Brasil??
Cuco maluco diz:
Em Recife mesmo, em 1986 ou 85 (não lembro direito) pra um jornal de circulação local chamado O Rei Da Notícia, editado por Clériston Andrade. Publiquei páginas de personagens meus de uma série chamada Neopós. Como eu tinha um amigo que trabalhava numa rádio lá, o grupo de personagens tinha até fã-clube! Hehehe. Era engraçado...
Bruno oliveira diz:
Hahaha, que legal. Muitos passam a vida sem publicar um personagem próprio!! E você tinha até fã-clube???
Cuco maluco diz:
Se eu tivesse permanecido em Recife, talvez tivesse me transformado numa personalidade conhecida por lá.
Bruno oliveira diz:
E o Amigo da Onça???
Cuco maluco diz:
Foi um trabalho bacana feito em parceria com Jal, inicialmente pra revista Semanário, e depois pra Revista 2000 do Estadão (OESP). Passamos três anos trabalhando com o personagem, na primeira, criávamos uma página semanal.
Bruno oliveira diz:
Parece que o processo era todo meio maluco, roteiros por telefone... Como era, explica aí direitinho.
Cuco maluco diz:
Na segunda foram cinco ou seis páginas mensais (o número exato de edições que durou a publicação). O Jal me ligava na noite anterior à entrega da página e ficava bolando a piada enquanto conversávamos sobre o cenário político do Brasil e do mundo. Eu ficava irritado, às vezes, por que tinha que varar a madrugada.
Bruno oliveira diz:
Um dia antes??
Cuco maluco diz:
Mas me divertia na maior parte do tempo. A página tinha que ser entregue na manhã da quarta-feira - ele me ligava na noite da terça.
Bruno oliveira diz:
Caralho... E você desenhava e fazia arte-final? Ou tinha cor também?
Cuco maluco diz:
E eu trabalhava no departamento de arte de uma empresa - tinha que bater ponto e coisa e tal... Desenho, cor e letras. Tudo prontinho.
Bruno oliveira diz:
Que loucura... por isso que hoje você faz umas coisas absurdas (do tipo pintar com café) em minutos!! (isso de pintar com café me chocou no dia)
Cuco maluco diz:
Depois de muito reclamar, ele resolveu criar umas piadas "frias" pra que eu desenhasse com antecedência, mas sempre surgia um assunto "quente" que era mais importante e lá ia minha noite pras cucuias....
Bruno oliveira diz:
Isso é muito incrível! Foda saber disso!!
Cuco maluco diz:
Invariavelmente, trabalhar com arte significa não fazer arte, mas sim cumprir prazos. Se você for capaz de fazer alguma arte dentro do prazo, maravilha! Se não, vai sem arte nenhuma mesmo!
Bruno oliveira diz:
Vocês sempre passaram isso bem lá na Quanta. A diferença entre trabalho e arte.
Cuco maluco diz:
Aí valem os anos de prática e toda a técnica em deixar coisinhas sem importância terem alguma graça
Bruno oliveira diz:
E como surgiu trabalho pros gringos?
Cuco maluco diz:
Fui convidado pelo Hélcio de Carvalho do Art & Comics - resisti no começo, mas ele insistiu - cedi e acabei gostando da coisa. Foi uma experiência muito boa - cansativa, estressante, mas muito bem paga.
Bruno oliveira diz:
Como era seu ritmo na época??
Cuco maluco diz:
Era diferente, ia mudando de acordo com meu humor e com a lua, mas costumava ser assim: trabalhava dois dias (produzia cinco páginas) e coçava o saco (ia ver peças de teatro, exposições em galerias de arte e museus, via filmes e comia em bons restaurantes) durante os outros cinco dias da semana. Um vidão... Hélcio ficava maluco comigo...
Bruno oliveira diz:
Hahaha, adorei!! Isso devia ser incrível!!
Bruno oliveira diz:
Quando você entrou nisso, já trampava com desenho há muito tempo?
Cuco maluco diz:
Já. Isso foi em 1989. Eu já tava com um ritmo bem bacana e trabalhava mais rápido com pincéis do que com nanquim e penas. As primeiras edições em que trabalhei fiz desenho e arte-final a nanquim.
Bruno oliveira diz:
O que era?
Cuco maluco diz:
Trancers, Torg, Lovecraft e BloodChilde.
Depois que o Hélcio descobriu que eu sabia pintar foi atrás de trampos pintados, daí surgiu a Rainha dos Condenados. Nos quatro primeiros eu fiz minha própria arte-final.
Bruno oliveira diz:
Putz, esse é lindo!
Cuco maluco diz:
Os dois primeiros volumes de Trancers são um horror!
Bruno oliveira diz:
Você demorava muito por adicionar pintura na sua rotina? Ou rolava da mesma forma?
Cuco maluco diz:
Gosto do trabalho em Torg, gosto mais de lovecraft e adoro BloodChilde.
Cuco maluco diz:
Tinta? Não. Pintava no mesmo ritmo em que fazia páginas a nanquim, talvez fosse até mais rápido.
Bruno oliveira diz:
Caralho, Cariello!
E o que mais você fez pros americanos?
Bruno oliveira diz:
Você fez Wolverine, né? Fez deathstroke pra DC
cuco maluco diz:
Fiz coisinhas desimportantes: Wolverine, Deathstroke, Black Lightning.
Bruno Oliveira diz:
Hahahahaha, isso, zoa de quem tá querendo entrar nisso, hahahaha
Cuco maluco diz:
Sério! São os trabalhos mais desimportantes que fiz pros gringos. A única grande satisfação foi ter trabalhado com meu irmão, eu fiz os desenhos e ele arte-finalizou uma história do Deathstroke pro especial Annual 4.
Bruno oliveira diz:
Não sabia.
Cuco maluco diz:
Ficou bacana.
Bruno oliveira diz:
E por que você parou? Cansou?
Cuco maluco diz:
E a história é muito boa. Cansou!
Talvez até volte a fazer alguma coisa pros americanos, mas não me sinto muito disposto, hoje. Pelo menos hoje, não...
Amanhã vai ser outro dia...
Bruno oliveira diz:
Como surgiu a Fábrica, que virou Quanta, que ainda é Quanta?
Bruno oliveira diz:
Você já tinha parado de trabalhar pros americanos?
Cuco maluco diz:
Tinha dado um tempo. Fui convidado pelo Campos a participar de um estúdio-escola que ele vinha discutindo com o Jotapê e o Vilela.
Na primeira reunião em que participei, estavam lá, também, o Roger, o Luke, o Fabinho e o Manolo. A segunda reunião foi no meu apartamento.
Bruno oliveira diz:
Putz, bastante gente.
Cuco maluco diz:
o Luke, o Manolo e o Fabinho se juntaram ao Klebs, algum tempo depois pra criar a Impacto.
Ficamos Campos, Jotapê, Roger, Vielela e eu e criamos a Fábrica.
(Luke Ross, Manny Clark, Fabio Laguna, Jotapê Martins, Rogério Vilelea, Roger Cruz, Marcelo Campos, Klebs Jr).
Bruno oliveira diz:
Hahaha, ok.
Cuco maluco diz:
Havia muito movimento por causa dos artistas trabalhando pros EUA. Surgiram muitas pessoas querendo desbancar o A&C no agenciamento da rapaziada, tudo parecia que ia estourar, como estourou. Mas foi nas mãos de alguns desavisados. Hehehe
No começo foi difícil, mas depois fomos aprendendo.
Bruno oliveira diz:
Como assim estourou? O que aconteceu?
Cuco maluco diz:
Muita coisa. Em 1997 havia mais de trinta artistas brasileiros trabalhando pros EUA. Os americanos chamaram isso de The Brazilian Invasion.
Bruno oliveira diz:
Putz, q louco!!
Cuco maluco diz:
Depois de todos os problemas que os primeiros enfrentaram, tinha chegado a vez da segunda leva: o Roger, Fabinho, Luke, Manny e muitos outros estavam entre eles.
Roger estava já bem estabelecido já como o grande nome das HQs. A escola começou muito bem graças ao nome dele.
O Campos era respeitado por tudo que ele havia feito na Marvel e na DC.
Vilela e eu éramos razoavelmente conhecidos no mercado editorial brasileiro e americano. A escola ia de vento em popa.
E o estúdio começou com o pé direito porque Jotapê conhecia muita gente e tinha um jeito todo especial em vender nossa empresa - fizemos, de cara, um vídeo clipe pros Titãs.
Bruno oliveira diz:
E por que acabou??
Cuco maluco diz:
Acabou porque gente quando se reúne faz confusão.
Ninguém morreu, mas era impossível continuar convivendo depois de certas brigas. Jotapê foi o primeiro a sair, um ano depois. Mais um ano e foi o Roger. Aí entrou o Eduardo Schaal.
Bruno oliveira diz:
Vocês são, vocês eram os fodas (tanto aqui quanto lá fora), rolava crise de ego?
Cuco maluco diz:
Crise de ego? Os fodas? Éramos apenas artistas trabalhando. Tentando fazer o que de melhor podíamos
Bruno oliveira diz:
Uma pergunta bem pessoal, ainda hoje, quando você tá lá, trampando em cima do papel, rola umas reflexões estranhas? Umas dúvidas sobre o universo, viajar mesmo?
Cuco maluco diz:
Não!
Cuco maluco diz:
Eu costumo refletir sobre o universo sem fazer muito mais coisas além disso! Quando eu tô desenhando eu costumo pensar em algumas coisas bem bobas... Eu faço caretas e os prováveis sons emitidos pelos personagens que eu tô desenhando ou fico pensando: já tá quase no fim... já tá quase no fim... Tenha mais paciência. Lava o rosto - já tá quase no fim.
Bruno oliveira diz:
Legal saber disso, hahaha!!
Cuco maluco diz:
Às vezes paro pra comer alguma coisa ou pra bater um punheta e volto pro trabalho. Nem sempre feliz - hehe
Bruno oliveira diz:
hahahaha
Putz, mas você é rápido pra caralho. Rolava essa "agonia" com o tempo pra produzir?
Cuco maluco diz:
Uma hora parece uma eternidade quando você tá com sono ou com vontade de fazer cocô.
bruno oliveira diz:
Hahaha
Bruno oliveira diz:
Nunca rolou nervosismo ("ah, esse projeto é importante por causa disso, ou daquilo")
Cuco maluco diz:
Eu, heim!
Bruno oliveira diz:
O que?
Cuco maluco diz:
Eu preciso pagar contas - isso é importante.
Eu quero viajar pra Europa - isso é importante.
Eu quero ler esse ou aquele livro, ver esse ou aquele filme - isso é importante.
Quero comer naquele restaurante - isso é importante.
Bruno oliveira diz:
Caralho, você não faz idéia do quanto isso é fascinante, fessôr! Um "abrir de olhos".
Cuco maluco diz:
Projeto é trabalho
Trabalho nunca é mais importante do que viver.
Bruno oliveira diz:
Puta lição... putz
E ensinar? Ser professor? É bom?
Cuco maluco diz:
Muito! Aprende-se muito dando aulas. E é uma chance inigualável de passar um pouquinho de conhecimento qualificado pra quem realmente se interessa.
Bruno oliveira diz:
O que, de mais importante, você já aprendeu dando aulas?
Cuco maluco diz:
O que de mais importante eu CONTINUO aprendendo, a cada aula, é que as pessoas são muito parecidas.
Bruno oliveira diz:
Em q sentido?
Cuco maluco diz:
Em todos.
Bruno oliveira diz:
É mesmo?
Cuco maluco diz:
De cima, de baixo, de lado, de frente, de costas...
Por dentro e por fora.
Bruno oliveira diz:
Bom, você acabou de falar das pessoas que se interessam e as que não se interessam.
Onde pode tá a semelhança nisso?
Cuco maluco diz:
Eu morro de medo do escuro na pele de tal aluno, viajo nas corredeiras destemido na pele daquela loirinha, fumo maconha com os pulmões do negro e rezo o pai nosso com os lábios da ruiva lá de trás.
Cuco maluco diz:
Fodo com o tempo com o rapaz que não quer saber do que o professor está falando e faço amor com a noite com o corpo da mocinha interessada em cada detalhe do meu discurso. E cada vez sou mais eu e sou mais ninguém e sou mais todos.
Bruno oliveira diz:
Caralho, Fessôr!! Agora você botou pra foder!!
É uma das coisas que continua sendo bom te encontrar!
Cuco maluco diz:
E entendo o gesto, o olhar, a palavra, o palavrão, o elogio, a crítica, o brilho e o opaco. E entendo mais a todos e a mim mesmo. E entendo mais o que significa ser deus. O que é ser importante e não ter importância alguma. Somos todos iguais, infelizmente, nem todos conseguem ver isso.
Cuco maluco diz:
Hahaha! Ensinado a gente aprende
Bruno oliveira diz:
Até que enfim alguém explicou porque que ensinando se aprende!
Cuco maluco diz:
hahahahaha!

Bruno oliveira diz:
Pra encerrar, fessôr, como estão as coisas hoje? Com relação à vida, a Quanta, os trabalhos?
Cuco maluco diz:
A vida é hoje. A Quanta continua sendo o lugar onde aprendo muito e tento ensinar algumas coisas. Os trabalhos são o que são quando acontecem e o futuro vai virar hoje, já já, sem pressa.
Bruno oliveira diz:
Meu, na boa, você é uma cara de ouro, Cariello
Sem viadagem, hahaha!
Cuco maluco diz:
hehe
Bruno oliveira diz:
E o que você pode dizer pros que ainda tentam encontrar seu rumo?
cuco maluco diz:
Muita gente comete um erro doloroso ao procurar a felicidade fora de si mesmos. Muita gente acha que se fizer isso ou cumprir aquilo ou conseguir aquilo outro, ou trepar com esse, ou transar com aquele, ou amar aquela outra vai ser feliz e realizado. A verdade não está lá fora!!! Está lá dentro!
Se se puder ver a verdadeira riqueza, a felicidade estará apenas a um toque de distância de ser alcançada. Todo o resto é conseqüência dessa boa relação com você mesmo!
Bruno oliveira diz:
Que lição!!
Cuco maluco diz:
As conquistas e os desafios são meras passagens, portais pra outros níveis com mais desafios (quem joga algum game sabe do que eu tô falando). O legal é que a vida só tem fim quando chegarmos à conclusão que já não temos muito a prender!
Que a vida seja vivida hoje, como um grande aprendizado de felicidade (sem exagerar no hedonismo - a eterna busca insana pelo prazer). O resto será conseqüência e uma das boas.
É isso, acho!
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